A Palo Seco - N.16

MODOS DO CÔMICO

Frases cômicas na Literatura
Profa. Dra. Jacqueline Ramos

CÔMICO e CONHECIMENTO - 2021

Sobre o cômico na literatura brasileira modernista
Profa. Dra. Jacqueline Ramos

Você tem notícia do latim?

A tese "Dois tempos da cultura escrita em latim no Brasil: o tempo da conservação e o tempo da produção • discursos, práticas, representações, proposta metodológica" do prof. José Amarante Sobrinho, recebeu o Prêmio Capes de Teses 2014 - Letras e Linguística

Palo Seco, Ano 15, N. 16, 2023
Escritos de Filosofia e Literatura


CONSELHO EDITORIAL

Alexandre de Melo Andrade - Universidade Federal de Sergipe/UFS, Brasil

Anelito Pereira de Oliveira - Universidade Federal de Minas Gerais/NEIA/UFMG, Brasil

Beto Vianna - Universidade Federal de Sergipe/UFS, Brasil

Camille Dumoulié - Université de Paris Ouest-Nanterre-La Défense, França

Carlos Eduardo Japiassú de Queiroz - Universidade Federal de Sergipe/UFS, Brasil

Celina Figueiredo Lages - Universidade Estadual de Minas Gerais/UEMG, Brasil

Christine Arndt de Santana - Universidade Federal de Sergipe/UFS, Brasil

Conceição Aparecida Bento - Univ. Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri/UFVJM, Brasil

Fabian Jorge Piñeyro - Universidade Pio Décimo/PIOX/Aracaju, Brasil

Fernando de Mendonça - Universidade Federal de Sergipe/UFS, Brasil

Jacqueline Ramos - Universidade Federal de Sergipe/UFS, Brasil

Jean-Claude Laborie -Université de Paris Ouest-Nanterre-La Défense, França

José Amarante Santos Sobrinho - Universidade Federal da Bahia/UFBA, Brasil

Leonor Demétrio da Silva - Exam. DELE-Instituto Cervantes/SE, Brasil

Lúcia Maria de Assis - Universidade Federal Fluminense/UFF, Brasil

Luciene Lages Silva - Universidade Federal de Sergipe/UFS, Brasil

Luiz Rosalvo Costa - Universidade Federal de Sergipe/UFS, Brasil

Marcos Fonseca Ribeiro Balieiro - Universidade Federal de Sergipe/UFS, Brasil

Maria A. A. de Macedo - Universidade Federal de Sergipe/UFS, Brasil

Oliver Tolle - Universidade de São Paulo/USP, Brasil

Renato Ambrósio - Universidade Federal da Bahia/UFBA, Brasil

Rodrigo Pinto de Brito - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro/UFRRJ, Brasil

Romero Junior Venancio Silva - Universidade Federal de Sergipe/UFS, Brasil

Rosana Baptista dos Santos - Univ. Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri/UFVJM, Brasil

Tarik de Athayde Prata - Universidade Federal de Pernambuco/UFPE, Brasil

Ulisses Neves Rafael - Universidade Federal de Sergipe/UFS, Brasil

Vladimir de Oliva Mota - Universidade Federal de Sergipe/UFS, Brasil

Waltencir Alves de Oliveira - Universidade federal do Paraná/UFPR, Brasil

William John Dominik - University of Otago, New Zealand (Professor Emeritus), Nova Zelândia

EDITORIA

Jacqueline Ramos - Editora-Chefe

Luiz Rosalvo Costa - Editor-Adjunto

Maria A. A. de Macedo - Editora-Adjunta

EDITORA-GERENTE

Luciene Lages

PROJETO GRÁFICO e DIAGRAMAÇÃO

Julio Gomes de Siqueira

IMAGEM DA CAPA: Duas Figuras, de Ismael Nery (1927, Óleo sobre cartão sobre madeira).

Este trabalho está distribuído sob uma Licença Creative Commons
Atribuição - Compartilha Igual - 4.0 Internacional.


Sumário

Apresentação

Jacqueline Ramos, Luiz Rosalvo Costa e Maria A. A. de Macedo

APRESENTAÇÃO

Mas voltando à linguagem: é ela, em que
cabem a verdade, a mentira e o fingimento,
o meio transacional do relacionamento entre
o filosófico e o poético.
Benedito Nunes

A Palo Seco completa 15 anos abrigando reflexões que exploram as relações possíveis entre filosofia e literatura, a conversação ou “transa”, no dizer de Benedito Nunes, metaforizando a atração e interpenetração das áreas. E, nesse amálgama, a ideia de fronteira tem se mostrado inapreensível, mas não a dinâmica da transa que mistura corpo e sentidos da linguagem. Nesses anos, os inúmeros artigos publicados, com olhares e abordagens diversas, têm confirmado a potencialidade dessa transa. E é também o que se verifica nesta edição da revista, que agora passa a ser semestral.

Abre este número, o artigo de Vladimir de Oliva Mota intitulado “A antinomia do gosto em Madame de Lambert” que, além de apresentar as reflexões da filósofa sobre o gosto, contextualiza sua produção que está muito além da mera promoção dos salões. Nesse sentido, descortina o fato de que as vozes femininas nem sempre são caladas, mas ocultadas dada a primazia da produção masculina. Outro tema, a função expressiva da literatura em George Bataille, é abordado por Robson Araujo em “O mal da literatura: a crítica da forma e da significação em Geoge Bataille”, concluindo que a literatura põe a nu a experiência de angústia do autor.

O artigo “Surrealismo: filosofia de vida e processo de escritura” de Rafael Eduardo Franco irá expandir o conceito do Surrealismo de André Breton para além da dimensão literária. Seus autores defendem o Surrealismo de Breton como uma filosofia de vida, pelo acento colocado no estético em sua relação com o ético e o político. Não seria tão somente uma mera expansão do literário, criando uma estética surrealista, mas também sua expansão nas esferas sociais, culturais, morais e políticas. Em um estilo que transita entre o ensaio e o artigo acadêmico, “A escrita filosófico-literária: atenção e silêncio”, de Barbara Romeika Rodrigues Marques, busca explorar a fronteira filosofia-literatura na e pela linguagem, atentando especialmente para o valor de silêncio que a realização artística oferece às possibilidades de expressão.

Podemos dizer que nesses primeiros artigos o literário é discutido pelo viés filosófico e os demais artigos, na via inversa, abordam o filosófico no literário. É o que se percebe em “O devir em Julio Cortázar: ressurgências da animalidade na literatura contemporânea” em que Hiandro Bastos e Lauro Roberto do Carmo Figueira discutem, através do conto “Carta a uma senhorita em Paris”, a maneira como a literatura singulariza alguns conceitos-chave presentes em textos de domínio filosófico; mais precisamente, os autores desse artigo discorrem sobre o conceito de “devir” de Deleuze e Gattari que seria, grosso modo, uma transformação desencadeada por um contato-encontro de diferentes-exterior, que é por excelência o humano face ao inumano (geralmente um animal). Os autores discutem esse conceito em sua expressão literária, no conto em questão, como também assinalam sua importância como elemento propulsor no universo feérico de Cortázar – universo feito de “limbo de sombra de consciência” em direção à criação literária.

Suzy Meire Faustino em seu “Entre conceito e símbolo: os poderes espiritual e temporal em Henry Thoreau” põe em evidência aspectos filosóficos nas obras A desobediência civil e Walden de Henry Thoreau, mais conhecido pela crítica sócio-política que denuncia a democracia que desvirtua, o trabalho que torna o homem escravo e meio, e cujo efeito seria o apequenamento do humano preocupado apenas com o contingente, o mutável e o superficial. A autora resgata essa crítica que aparece como contraponto aos elementos simbólicos nas obras estudadas, que são explorados enquanto verticalidade, apoiando-se nos conceitos escolásticos de poder temporal e espiritual. Os aspectos simbólicos vinculados a uma atmosfera pastoral revelariam “um poder mais elevado e independente” do indivíduo que seria solapado pela democracia.

As imagens e paisagens geopoéticas nas representações das travessias geográficas do sertanejo é o foco da reflexão desenvolvida no artigo “Vidas secas: travessias geopoéticas no sertão”, de Claudio Novaes, que analisa, na perspectiva da geopoética, personagens das narrativas de Vidas secas (1938), de Graciliano Ramos, e Vidas secas (1963), no cinema, de Nelson Pereira dos Santos.

Em “O escudo de Dioniso: sobre a relação metafórica entre vinho e guerra na poesia grega”, Julia Guerreiro de Castro Zilio Novaes apresenta uma proposição de investigação de uma passagem da Poética referente à relação metafórica estabelecida por Aristóteles sobre a taça estar para Dionísio assim como o escudo estar para Ares. A autora faz constar duas possibilidades interpretativas da relação metáfora; uma efetuada na associação desses objetos e seus Deuses e outra na verdade material, assentada propriamente nos formatos dos objetos do escudo e da taça. Seu intuito está em evidenciar a contraposição metafórica-analógica da fala aristotélica para além das dessas duas interpretações. De acordo com a autora, trata-se na contraposição metafórico-analógica de “formulações que cristalizam um rico imaginário pregresso, um verdadeiro topos, imagem recorrente na poesia grega”. Esse imaginário já antigo de Dionísio e Ares, e escudo e taça associados respectivamente à guerra e à paz, ela verificará nas manifestações poéticas, tais como a elegia arcaica metasimpótica e no drama ático. Em ambos as manifestações poéticas, o vinho se faz presente e associado à ausência da guerra.

Em “Kairós – o tempo na poesia de Orides Fontela”, Alan Alves discute os processos da construção estética da poeta paulista a partir da exploração de modos pelos quais o tempo, atravessado pela ideia de kairós, nas suas dimensões míticas gregas e cristãs, opera como elemento constitutivo da sua produção poética.

Na seção de traduções, o primeiro trabalho, de André Felipe Gonçalves Correia, verte para o português o texto “Ein Satz aus der höheren Kritik”, de Bernd Heinrich Wilhelm von Kleist, romancista, dramaturgo, poeta e contista alemão na virada do XVIII para o XIX. Trata-se de um dos textos de reflexão estética de Kleist, mais conhecido, conforme pontua o tradutor, pela sua produção literária.

O segundo trabalho apresentado nesta edição, de Deolinda de Jesus Freire, traz a tradução de textos preambulares da Brevísima relación de la destruición de las Indias, de autoria do frei Bartolomé de las Casas. A obra completa, que os preâmbulos aqui apresentados integram, versa sobre a destruição dos reinos do Novo Mundo, e foi publicada pela primeira vez em 1552, em Sevilha, na Espanha.

Jacqueline Ramos
Luiz Rosalvo Costa
Maria A. A. de Macedo

4
Artigos

A antinomia do gosto em Madame de Lambert

Vladimir de Oliva Mota

Universidade Federal de Sergipe

RESUMO: Inserida numa tradição a que se convencionou chamar de Estética do sentimento, Madame de Lambert afirma que o Gosto é uma espécie de instinto que nos arrasta, que nos conduz mais seguramente do que todos os raciocínios. Para a filósofa, o Gosto depende da experiência e não de qualquer consideração conceitual, ele não está subordinado a regras da beleza, mas a algo indeterminado, mesmo indeterminável. Contudo, esse caráter do Gosto não autoriza o seu relativismo. Parte-se aqui da tensão no pensamento estético de Madame de Lambert, a saber: por um lado, a defesa de uma subjetividade do Gosto, vinculado à adequação do objeto a disposições dos órgãos perceptivos acerca do modelo que desconhecemos; por outro, a busca da filósofa pela formulação de uma resposta crítica, por uma universalidade do Gosto que depende do conceito de exatidão dos sentidos. Assim, pretende-se identificar o elemento indicado por Madame de Lambert a harmonizar a tensão criada em sua estética. A solução da filósofa retoma essa noção de exatidão dos sentidos cara ao pensamento estético da passagem do século XVII para o XVIII, a saber: o je ne sais quoi. Para reconstruir aqui essa solução da filósofa, será necessário articular os textos Reflexões sobre o gosto e Discurso sobre a delicadeza de espírito e de sentimento com a obra em torno da qual esses dois textos orbitam: Reflexões novas sobre as mulheres. Assim, é possível entender que, para Madame de Lambert, o Gosto é esse je ne sais quoi que se sente e não se pode dizer, mas que conhece o que convém e que faz sentir em cada coisa a medida que é preciso ter.
PALAVRAS-CHAVE: Madame de Lambert. Gosto. Je ne sais quoi.

ABSTRACT: Inserted into a tradition that has come to be called the Aesthetics of Sentiment, Madame de Lambert affirms that Taste is a kind of instinct that drag us, that leads us more securely than all reasoning. For the philosopher, Taste depends on experience and not on any conceptual consideration, it is not subordinated to rules of beauty, but to something indeterminate, even indeterminable. However, this character of Taste does not authorize its relativism. We start here from the tension in Madame de Lambert’s aesthetic thought, namely: on the one hand, the defense of a subjectivity of Taste, linked to the adequacy of the object at the disposal of the perceptive organs about the model we do not know; on the other, the philosopher’s search for the formulation of a critical response, for a universality of Taste that depends on the concept of accuracy of the senses. Thus, it is intended to identify the element indicated by Madame de Lambert to harmonize the tension created in her aesthetics. The philosopher’s solution takes up this notion of accuracy of the senses that was valuable to aesthetic thought from the passage of the 17th to the 18th century, namely: the je ne sais quoi. To reconstruct the solution here, it will be necessary to articulate the texts Reflections on taste and Discourse on the delicacy of spirit and feeling with the work upon which these two texts orbit: New reflections on women. This way, it is possible to understand that, for Madame de Lambert, Taste is that je ne sais quoi that is felt and cannot be said, but that knows what is convenient and that makes us feel in each thing the measure that must be had.
KEYWORDS: Madame de Lambert. Taste. Je ne sais quoi.

8

O mal da literatura: a crítica da forma e da significação em Georges Bataille

Robson Breno Dourado de Araujo e Álvaro Lins Monteiro Maia

Universidade Federal do Ceará | Universidade Federal da Paraíba

RESUMO: Pretendemos pensar neste artigo a noção de comunicação, em Georges Bataille, como o que define, de modo mais rigoroso, a experiência da literatura. Partimos, em princípio, de sua polêmica com o surrealismo de 1930 para demarcar o fato de que literatura é o oposto de uma composição formal que obedece a uma expressão intencional do sentido. Ela é antes comunicação que acede ao inominável, fletindo a separação sujeito-objeto para fazer ver, na linguagem, a nudez da experiência de angústia do autor; momento em que, para Bataille, a linguagem, o dizer, coincide com a materialidade de sua enunciação: o baixo material da vida humana. Deste modo, a literatura como comunicação arreda-se de uma exposição realista e constatativa do mundo, no afã de traduzir o referente em significação, para reclamar a possibilidade de dizer a experiência humana ali onde o dizer se subtrai, isto é, na proximidade do enunciador com a experiência limite de sua angústia.
PALAVRAS-CHAVE: Comunicação. Literatura. Angústia. Linguagem. Baixo.

ABSTRACT: In this article, we intend to think about the notion of communication in Georges Bataille as what defines, in a more rigorous way, the experience of literature. We depart, in principle, from his controversy with surrealism in the 1930s to demarcate the fact that literature is the opposite of a formal composition that obeys an intentional expression of meaning. Rather, it is communication that accesses the unnameable by bending the subject-object separation to make one see, in language, the nudity of the author’s experience of anguish; moment in which, for Bataille, the language, the saying, coincides with the materiality of its enunciation: the material base of human life. In this way, literature as communication moves away from a realistic and demonstrative exposition of the world, in the eagerness to translate the referent into meaning, to claim the possibility of saying the human experience there where the saying is subtracted, that is, in the proximity of the enunciator with the limit experience of his anguish.
KEYWORDS: Communication. Literature. Anguish. Language. Base.

19

Surrealismo: filosofia de vida e processo de escritura

Rafael Eduardo Franco e José Francisco Miguel Henriques Bairrão

Universidade de São Paulo

RESUMO: Apresenta-se uma possível definição para o surrealismo francês, centrada nas ideias de André Breton, a partir de dois caminhos. Primeiro, considera-se o surrealismo como uma forma de filosofia de vida, que constrói, segundo as suas proposições e intenções, uma ética, uma estética e uma circulação pelo campo político, categoricamente surrealistas. Segundo, considera-se também o surrealismo de André Breton como um processo de escritura, que encarna, suplementa e confere expressão para a primeira definição. A partir dessas perspectivas, compreende-se o surrealismo bretoniano como movimento dinâmico de revisitação e contestação ao espírito de sua época.
PALAVRAS-CHAVE: Surrealismo. André Breton. Escrita automática. Linguagem. Modernidade.

ABSTRACT: A possible definition for French surrealism is presented, centered on the ideas of André Breton, from two paths. First, we consider surrealism as a form of philosophy of life, which builds, according to its propositions and intentions, an ethic, an aesthetic, and a circulation through the political field, categorically surrealists. Second, André Breton’s surrealism is also considered as a writing process, which embodies, supplements, and gives expression to the first definition. From these perspectives, Breton’s surrealism is understood as a dynamic movement of revisiting and contesting the spirit of its time.
KEYWORDS: Surrealism. André Breton. Automatic writing. Language. Modernity.

32

A escrita filosófico-literária: atenção e silêncio

Bárbara Romeika Rodrigues Marques

Universidade Federal de Juiz de Fora

RESUMO: Este ensaio procura reunir pistas da relação entre a literatura e atitude filosófica que revele e dê a revelar um valor de silêncio. Reafirma, assim, o alcance da escrita filosófico-literária como mediação crítica e criativa com a expressão e, para tal, destaca a forma em que a linguagem literária resguarda e acentua o elo entre ser e mundo. Busca questionar em que medida a forma da atitude literária demanda uma atenção criadora e como esta condição atencional amplifica a cultura humana.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura. Filosofia. Atenção. Criação literária. Atenção criadora.

ABSTRACT: This essay seeks to gather clues on the relationship between literature and philosophical attitude that reveals and reveals a value of silence. Thus, it reaffirms the scope of philosophical-literary writing as a critical and creative mediation with expression and, for that, it highlights the way in which literary language protects and accentuates the link between being and world. It seeks to question to what extent the form of literary attitude demands creative attention and how this attentional condition amplifies human culture.
KEYWORDS: Literature. Philosophy. Attention. Literary creation. Creative attention.

47

O devir em Julio Cortázar: ressurgências da animalidade na literatura contemporânea

Hiandro Bastos da Silva e Lauro Roberto do Carmo Figueira

Universidade Federal do Oeste do Pará

RESUMO: O presente estudo evidencia o modo como o “devir” (DELEUZE; GUATTARI,1997, p. 8) se configura no interior do conto “Carta a uma senhorita em Paris” (1986), de Julio Cortázar. Com fundamentação no pensamento de Gilles Deleuze e Félix Guattari, verificam-se por quais procedimentos as culturas ocidentais dão forma ao humano, questão abordada também por Gabriel Giorgi (2016). Feito esse reconhecimento, procura-se imaginar, como exercício não apenas filosófico, mas também poético, figurações do humano, do sujeito e do indivíduo não apropriadas pelas tecnologias de poder, examinadas por Michel Foucault (2005). Sob essa formatação, constata-se, no texto de Cortázar, a materialização do corpo como instância de multiplicidade, resultado do gesto afetivo entre humano e não humano. Em suma, atesta-se uma operação ficcional que rompe com as gramáticas corporais, além de potencializar as produções de subjetividade.
PALAVRAS-CHAVE: Homem. Animal. Devir. Julio Cortázar.

ABSTRACT: The present study highlights the way in which the “becoming” (DELEUZE; GUATTARI,1997, p. 8) is configured within the tale “Letter to a lady in Paris” (1986), by Julio Cortázar. Based on the thought of Gilles Deleuze and Félix Guattari, it is verified by which procedures Western cultures shape the human, an issue also addressed by Gabriel Giorgi (2016). Once this recognition is made, we seek to imagine, as an exercise not only philosophical, but also poetic, figurations of the human, the subject and the individual not appropriated by the power technologies, examined by Michel Foucault (2005). Under this format, the materialization of the body as an instance of multiplicity, the result of the affective gesture between human and non-human, can be seen in Cortázar’s text. In short, it attests to a fictional operation that breaks with body grammars, in addition to enhancing the productions of subjectivity.
KEYWORDS: Man. Animal. Becoming. Julio Cortázar.

56

Entre conceito e símbolo: os poderes espiritual e temporal em Henry Thoreau

Suzy Meire Faustino

Universidade do Estado de São Paulo

RESUMO: Este artigo propõe uma intersecção ou atravessamento entre símbolos e representações literárias e os conceitos de poder temporal e espiritual em recortes de duas obras do ensaísta americano Henry Thoreau (1817-62), as quais, sugerimos, discutem a ordem da alma e a ordem da sociedade. A primeira delas é Walden, de 1854. A segunda, A Desobediência Civil, de 1849. Nossa hipótese é a de que, perfazer-se-iam, em Thoreau, duas dimensões, uma espiritual – identificada simbolicamente com a natureza e, por vezes, com a consciência –, e outra temporal – o Estado/governo, e a sociedade. Dessa forma, concebemos dois operadores simbólicos de interpretação: a verticalidade e a horizontalidade. Nosso aporte teórico contempla estudiosos da teoria política e da simbologia das imagens como Voegelin (2002), Bachelard (1990; 1989a; 1989b), Guénon (1995; 2001). A fortuna crítica de Thoreau mobiliza autores como Marx (2000), Paul (1958), Lane (1960), Hildebidle (2007), Turner (2009).
PALAVRAS-CHAVE: Thoreau. Walden. Desobediência Civil. Poder temporal. Poder espiritual.

ABSTRACT: This article proposes an intersection between symbols and literary representations and the concepts of spiritual and temporal powers in American essayist Henry Thoreau’s Walden (1854) and Civil Disobedience (1849). We suggest and presuppose that both works are in dialogue with the notions of order in the soul and in society, respectively. The main hypothesis allowed us to conceive two dimensions in Thoreau’s essays: the spiritual sphere, which is symbolically identified with nature, and the temporal dimension, which concerns State and society. Thus, we will consider two symbolic operators in the interpretation: verticality and horizontality. Critics and theorists as Voegelin (2002), Bachelard (1990; 1989a; 1989b), Guénon (1995; 2001), Marx (2000), Lane (1960), Paul (1958), Hildebidle (2007), Turner (2009) contribute to this study.
KEYWORDS: Thoreau. Walden. Civil Disobedience. Temporal Power. Spiritual Power.

70

Vidas Secas: travessias geopoéticas no sertão

Claudio Cledson Novaes e Raimundo Borges da Mota Junior

Universidade Estadual de Feira de Santana | Universidade Federal da Bahia

RESUMO: As representações do Nordeste brasileiro em obras artísticas versam sobre o sertanejo em travessias geográficas a partir de geopoéticas imaginárias. As narrativas literária e cinematográfica são atravessadas pelo discurso realista capturado pelo olhar estético. Neste artigo, comentamos as imagens e paisagens geopoéticas construídas nestas travessias, observando personagens das narrativas das obras Vidas secas (1938), de Graciliano Ramos, e Vidas secas, do cinema (1963), de Nelson Pereira dos Santos. A teoria da Geopoética é uma forma de perceber as nuances e a potência viva deste ambiente real, paradoxalmente apresentado como quase sem vida, porém revitalizado pelos olhares artísticos, literários e cinematográficos. Para balizar conceitualmente esta produção, temos Barthes (1984); Debs (2010); Santos (1996); Souza (2009) e White (2020), que subsidiam as discussões de cunho semiológico sobre as construções literárias e cinematográficas aqui tratadas geopoeticamente. Concluímos que as representações dos ambientes naturais e culturais sertanejos, sob a perspectiva geopoética, ultrapassam as relações estéticas entre as obras, alcançando assim traços do engajamento ético em cada período da arte literária e cinematográfica modernas do nacionalismo-popular brasileiro.
PALAVRAS-CHAVE: Representações. Modernismos. Geopoética. Travessia.

ABSTRACT: The representations of the Brazilian Northeast in artistic works deal with the countryside in geographic crossings from imaginary geopoetics. The literary and cinematographic narratives are crossed by the realist discourse captured by the aesthetic eye. In this article, we comment on the images and geopoetic landscapes constructed in these crossings, observing characters from the narratives of the works Vidas secas (1938), by Graciliano Ramos, and Vidas secas, from the cinema (1963), by Nelson Pereira dos Santos. The Geopoetic theory is a way to perceive the nuances and the living potency of this real environment, paradoxically presented as almost lifeless, but revitalized by the artistic, literary, and cinematographic gazes. To conceptually ground this production, we have Barthes (1984); Debs (2010); Santos (1996); Souza (2009), and White (2020), which subsidize the semiotic discussions about the literary and cinematographic constructions treated here geopoetically. We conclude that the representations of the natural and cultural environments of the sertão, under the geopoetic perspective, go beyond the aesthetic relations between the works, thus reaching traces of the ethical engagement in each period of modern literary and cinematographic art of Brazilian popular-nationalism.
KEYWORDS: Representations. Modernisms. Geopoetics. Crossing.

89

O escudo de Dioniso: sobre a relação metafórica entre vinho e guerra na poesia grega

Felipe Ramos Gall e Julia Guerreiro de Castro Zilio Novaes

Universidade de Brasília | Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

RESUMO: O presente artigo visa a investigar a hipótese de que a imagem usada por Aristóteles em Poética, XXI.1457b16-22, como exemplo da metáfora por analogia – a de que a taça (phialē) está para Dioniso assim como o escudo (aspis) está para Ares, – é, na verdade, a cristalização de um rico imaginário pregresso, e não simplesmente a articulação casual entre duas divindades quaisquer por artefatos característicos antonomásticos. Partindo dessa hipótese, analisamos instâncias do emprego privilegiado desta metáfora nas manifestações poéticas atreladas a dois contextos marcadamente dionisíacos, a saber, o simpósio e a festa: ambos estão ligados ao consumo de vinho, e ambos são possibilitados pela ausência de guerra. Assim sendo, na primeira seção do artigo, investigamos a contraposição entre vinho e guerra na elegia arcaica metasimpótica. Na segunda, nos interessa o vinho como símbolo de trégua militar no drama ático apresentado nas festividades dionisíacas, sobretudo na comédia aristofânica.
PALAVRAS-CHAVE: Aristóteles. Metáfora. Vinho. Guerra. Poesia elegíaca. Drama ático.

ABSTRACT: This paper aims to investigate the hypothesis that the image used by Aristotle in Poetics, XXI.1457b16-22, as an example of metaphor by analogy – that the cup (phialē) is in relation to Dionysus as the shield (aspis) is to Ares, – is, in fact, the crystallization of a preceding rich system of images, and not simply a casual articulation between any two divinities by antonomastic characteristic artifacts. By following this hypothesis, we analyze instances of the privileged employment of this metaphor in poetic manifestations linked to two markedly Dionysian contexts, namely, the symposium and the festival: both are linked to the consumption of wine, and both are made possible by the absence of war. Therefore, in the first section of this paper, we investigate the opposition between wine and war in Archaic metasympotic elegy. In the second, we are interested in wine as a symbol of military truce in the Attic drama presented in Dionysian festivities, especially in Aristophanic comedy.
KEYWORDS: Aristotle. Metaphor. Wine. War. Elegiac poetry. Attic drama.

106

Kairós – o tempo na poesia de Orides Fontela

Allan Alves

Universidade de São Paulo

RESUMO: Esse ensaio visa pensar sobre a característica do tempo na poesia de Orides Fontela. Para isto, noto em seus poemas constantes referências semânticas ao conceito do kairós em suas dimensões míticas – gregas e cristãs. No entanto, sua poesia não apenas alude ao conceito, mas o reelabora, cria e produz novos significados, na condição de explorar a dimensão que o instante produz de modo interno e externo aos sentidos do texto.
PALAVRAS-CHAVE: Orides Fontela. Tempo. Kairós.

ABSTRACT: This essay aims to think about the characteristic of time in the poetry of Orides Fontela. For this, I notice in his poems constant semantic references to the concept of kairos in its mythical dimensions – Greek and Christian. However, his poetry not only alludes to the concept, but re-elaborates it, creates and produces new meanings, under the condition of exploring the dimension that the instant produces internally and externally to the meanings of the text.
KEYWORDS: Orides Montella. Time. Kairos.

125
Traduções

Uma máxima da mais alta crítica de Heinrich von Kleist

André Felipe Gonçalves Correia

Universidade Federal do Rio de Janeiro

Apresentação

Bernd Heinrich Wilhelm von Kleist, nascido em 18 de outubro de 1777, foi um romancista, dramaturgo, poeta e contista alemão, que desde há muito figura no rol dos clássicos da literatura mundial. De modo geral, poderíamos concebê-lo como o último autor da primeira geração do romantismo alemão. Durante sua vida, entretanto, não logrou o devido reconhecimento, de modo que aos 34 anos, enfrentando severas dificuldades financeiras, planeia um suicídio coletivo, juntamente com sua amiga Henriette Vogel, então martirizada por um cancro. No dia 21 de novembro de 1811, Kleist consuma sua intenção, atirando primeiro em Henriette e em seguida em si mesmo, às margens do Wannsee, em Berlim.

Conhecido sobretudo pela sua produção literária, a exemplo da comédia O Jarro Quebrado, da tragédia Pentesileia, da novela Michael Kohlhaas e do conto O Terremoto no Chile, Kleist também foi um estudioso da filosofia de Kant, o que o encaminhou à produção de escritos de direcionamento filosófico, político e estético. O texto que apresentamos aqui ao leitor se insere no debate das questões estéticas. Sua primeira impressão se deu no dia 02 de janeiro de 1811, no jornal Berliner Abendblätter, publicado por Julius Eduard Hitzig e editado pelo próprio Kleist. O jornal teve uma curta existência: de 01 de outubro de 1810 a 30 de março de 1811. Nele foram publicados diversos textos do autor, incluindo o célebre Sobre o teatro de marionetes, bastante conhecido no Brasil. Quanto à presente edição, foi adotado o formato bilíngue: primeiramente o texto original em alemão e em seguida a sua tradução em português. O documento da edição alemã vale como citação, ou seja, apenas para fins acadêmicos e não comerciais, sem qualquer intenção de desrespeitar eventuais direitos da editora ou do editor.



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O estilo na tradução dos textos preambulares da Brevíssima relação da destruição das Índias de frei Bartolomé de las Casas

Deolinda de Jesus Freire

Universidade Federal de São Carlos

Apresentação

A tradução dos textos preambulares da Brevísima relación de la destruición de las Indias de frei Bartolomé de las Casas, que aqui apresentamos, é parte do projeto de pesquisa de estágio de pós-doutorado realizado no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Estudos de Literatura da Universidade Federal de São Carlos. A tradução completa da obra, que é composta de vinte capítulos sobre a destruição dos reinos do Novo Mundo, está em fase de revisão para futura publicação. Essa futura edição será ornada com as dezessete gravuras que Theodor Dietrich de Bry preparou para a edição latina da Brevísima de 1598...



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